Cupins e formigas podem aumentar produções agrícolas em até 36%

Então, que tal deixar os cupins e as formigas tomarem conta de suas plantações? Achou má ideia?

Cupins e formigas são considerados pela maioria das pessoas como pragas. E isso fica claro quando digitamos seus nomes no Google, e vemos que os primeiros sites que aparecem estão sempre relacionados às diversas estratégias para remover esses “inimigos” de nossas casas.

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No entanto, os cientistas sabem há muito tempo que esses dois grupos de insetos realizam importantes funções nos ecossistemas naturais e são grandes provedores de serviços ecossistêmicos. Como eles são muito abundantes no solo, eles movem grandes quantidades de terra através de suas escavações e construções. Os túneis que os cupins e as formigas constroem auxiliam na infiltração da água, aumentam a permeabilidade do solo e evitam erosões. E quando eles processam seus alimentos, eles melhoram a disponibilidade de nitrogênio no solo, através da decomposição de matéria orgânica.

Com isso em mente, cientistas realizaram um estudo na Austrália para testar como a presença de formigas e cupins afetariam a produção em uma plantação de trigo. Para isso, eles realizaram um experimento da seguinte forma: uma área da plantação foi dividida em 20 lotes de 27 m². Na metade dos lotes, as formigas e os cupins foram eliminados através da pulverização de inseticidas, e na outra metade, os cientistas pulverizaram apenas água, mantendo-os vivos.

Logo nos primeiros seis meses, os cientistas notaram uma redução de até 85% de ninhos ativos de formigas, e uma diminuição de 50% da presença de cupins em iscas nos lotes onde foram pulverizados inseticida. Dessa forma, obteve-se o tratamento desejado nos lotes com controle químico de inseticidas. Ao longo de 3 anos foram feitas medições dos impactos das atividades de cupins e formigas em todos os 20 lotes.

Nesses 3 anos, foram feitos dois plantios (e colheitas) de trigo, um no primeiro ano, e outro no terceiro. No primeiro ano, não houve diferença entre os lotes com e sem insetos. No entanto, a diferença significativa no experimento se deu na segunda colheita, após 3 anos. Nesta segunda colheita, os lotes que tinham cupins e formigas produziram 36% de trigo a mais do que os lotes em que esses insetos foram eliminados!

Através de outras medições realizadas, os cientistas chegaram à conclusão que os dois principais mecanismos pelos quais os cupins e as formigas afetaram positivamente a produção de trigo foram: 1) através do aumento de túneis do solo, que aumentam a infiltração de água; e 2) aumento da disponibilidade de nutrientes no solo, uma vez que eles transformam os nutrientes orgânicos em formas minerais que são utilizadas pelas plantas. O nutriente que teve maior aumento nos lotes com insetos foi o Nitrogênio, que não por acaso, é muito rico nas fezes de cupins, e é muito importante para as plantas.

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Estudos como este são muito importantes para mostrar que muitas vezes pode-se economizar, ou até se beneficiar, em não eliminar os insetos que normalmente são considerados pragas. O desconhecimento do papel ecológico desses insetos, e o rótulo de praga dado pelo grande público, pode levar a operações desnecessárias de controle e tratamento químico no solo, que pode acabar com a fauna nativa essencial não só para a harmonia e dinâmica do solo, como também para uma bom rendimento da colheita. O uso indiscriminado de agrotóxicos vem sendo amplamente divulgado, e devemos sempre investigar iniciativas que mostrem alternativas com menos interferências antrópicas na agricultura.

Texto por Natalia Uehara
Publicado originalmente em 12/02/2018

Veja o artigo original:

Evans, T. A., Dawes, T. Z., Ward, P. R., & Lo, N. (2011) Ants and termites increase crop yield in a dry climate. Nature communications, 2, 262, https://www.nature.com/articles/ncomms1257

Comments

  1. jose wander ferreira says:

    uaul…. semprefui defensor da natureza entao gosto da harmonia disso ,mas, a industria insentiva as pessoas a cometerem o crime acobertado de eliminar animais insetos e ate mesmo bcterias e plantas. para assim ficarmos cada vez mais dependentes da industria. amo ver que ainda ha alparanguem lutando para consientisar-nos do bem estar natural em preservar a natureza como foi criada para ser!

    1. Gabriel Olivieri says:

      Muito bacana seu comentario. É de fato um tema muito importante, ainda mais nos dias de hoje. Abraço!

  2. Anisio says:

    Sou a favor de não matar animal nenhum. Mas como é o convívio harmonioso e qual o manejo no pomar de citrus ?

    1. Tiago Carrijo says:

      Olá Anisio, desculpe a demora em responder. Seu comentário é muito importante, e existem algumas formas de manejo que evitam que os cupins ataquem as árvores vivas, mas continuam no ambiente fazendo importantes papéis ecológicos no solo. Se você fizer um manejo agroecológico, mantendo muita matéria orgânica no solo, inclusive madeiras de poda, por exemplo, os cupins tendem a preferir se alimentar desse material morto do que das plantas vivas.

  3. José Faccioli Junior says:

    Quero que os siris voltem ao meu bairro!!!
    Temos uma grande praça, e esses insetos são fontes de alimentação de pássaros!!
    Eu gostaria de saber como posso fazer que em uma pequena área da praça proliferere o siriri, para que quando chegue o calor ele dê alimento e atraia pássaros para nosso bairro.

    1. Tiago Carrijo says:

      Oi José, desculpe a demora para responder. Sim, os siriris são fonte de alimentação para vários animais.
      Onde você mora? Mantendo um ambiente com muitas árvores, é possível que os cupins voltem.

  4. […] como já sabemos, desempenham importantes funções nos ecossistemas! (se não sabia, veja esse e esse textos […]

  5. […] Ainda mais relevante, boa parte das pessoas desconhece a importância que esses insetos desempenham nos ecossistemas terrestres. Os cupins são importantes agentes na decomposição de matéria orgânica, consumindo desde madeira e restos de plantas, até material vegetal já bem decomposto no solo (húmus). Ao processar o alimento, eles participam ativamente do Ciclo do Carbono e Nitrogênio.  […]

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