Gênero: Meiatermes †
Incertae sedis
Não sei você, mas a gente aqui do Wikitermes vibra de emoção quando um novo fóssil de cupim é descrito. Os fósseis dão pistas de uma história evolutiva que a gente vai montando como um quebra cabeça. E nossos corações ficaram acelerados pela descoberta de Bezerra e colaboradores de uma nova (ou nem tão nova assim) espécie de cupim que foi incluído ao gênero Meiatermes.
O cupim dessa semana foi descrito a partir de uma amostra fóssil do período do cretáceo! Isso mesmo, de quando os dinossauros reinavam na terra e as primeiras flores surgiam, nossos, pequenos de tamanho, mas com grande importância ecológica, já habitavam o planeta. E não é por menos que toda a empolgação deste período serviu de inspiração para seu nome: M. cretacicus.
A nova espécie (já extinta) foi encontrada na formação Crato, no Ceará, em uma unidade geológica na bacia do Araripe, que é super importante. Esse local tem preservada uma infinidade de organismos que viviam no Cretáceo, desde de Pterossauros, passando por peixes, plantas, até alguns outros cupins, como a espécie Cratomastotermes wolfschwenningeri e outras espécies do gênero Meiatermes, como M. araripena e M. hariolus. Inclusive, muito tem sido discutido sobre o contrabando de fósseis dessa região, algo que gera enormes prejuízos para a ciência brasileira.
A identificação dessa nova/velha espécie de cupim foi realizada a partir da amostra de um indivíduo alado, o que é mais comum neste tipo de fossilização. Análises criteriosas de tamanho do corpo e posição das veias das asas são características importantes para se obter a classificação desse tipo de material. A maioria dos fósseis de cupins dessa época se formaram provavelmente quando havia uma revoada e alguns indivíduos acabavam caindo em algum lugar propício para se fossilizar (e entrar para história!).
As castas de operários e soldados das espécies de cupins que viviam nessa época provavelmente ficavam escondidas dentro de troncos, que aliado ao fato de os cupins apresentarem o corpo mole, dificulta a fossilização. O fato de não ter essas castas torna a classificação imprecisa, e é por isso que colocamos aquele “Incertae sedis” logo abaixo do gênero Meiatermes onde geralmente colocamos a família dos cupins da semana. Essa expressão significa “com posição incerta”, pois não conseguimos estabelecer à qual família ele pertence.
A evolução dos cupins é um assunto que fascina muitos termitólogos, a compreensão deste processo evolutivo registrada por fósseis traz importantes informações de padrões geográficos de cupins primitivos. Por isso, mais estudos são sempre necessários e importantes para nos fornecer uma visão mais completa de sua taxonomia e evolução, dando pistas de suas relações com outras linhagens de cupins e sua paleoecologia.
O espécime tipo da nova espécie foi coletado pelo Prof. Guilherme Cunha Ribeiro (UFABC) no contexto do projeto financiado pela FAPESP “A paleoentomofauna da formação crato (cretáceo inferior; bacia do araripe): sistemática e paleoecologia”. O estudo foi realizado em parceria com os pesquisadores Irineudo Bezerra (Universidade Federal do Ceará), Og de Souza (Universidade Federal de Viçosa) e Márcio Mendes (Universidade Federal do Ceará).
Texto por: Viviane Domingues
Referência
Bezerra F.I; Souza de O.; Ribeiro G. C.; Mendes M. (2021) A new primitive termite (Isoptera) from the Crato Formation, Araripe Basin, Early Cretaceous of South America, Journal of South American Earth Sciences, Volume 109. doi.org/10.1016/j.jsames.2021.103260.
Para saber mais sobre a formação do Crato acesse o trabalho:
Matos S. A; Garcia R. (2009) Por que o Crato preserva fósseis – Hipótese atribui à ação de bactérias a conservação de vestígios de plantas e de animais na bacia do Araripe. Revista Pesquisa Fapesp. Ed. 283. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/por-que-o-crato-preserva-fosseis/ Acesso em 27 de março de 2021