Ibitermes curupira

Família: Termitidae

Subfamília: Syntermitinae

O cupim dessa semana é a espécie Ibitermes curupira, que recebeu esse nome para homenagear  a figura mitológica protetora das matas brasileiras, o Curupira! 

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Apesar do nome, não dá pra dizer que ele se parece muito com o ator Fábio Lago, da série “Cidade Invisível” (e vale a nota que concordamos com as principais críticas à essa série, e que eles deveriam ter indígenas nos principais papéis!). Mas a história do curupira é muito mais antiga do que Cidade Invisível. Numa das mais importantes cartas do Padre José de Anchieta, no ano de 1560, ele se refere ao curupira como uma figura mitológica temida pelos povos indígenas. É interessante que, em um trecho da carta, o Padre Anchieta refere-se ao curupira no plural, como se os povos nativos relatassem vários curupiras andando por aí – será que eles encontraram um ninho de Ibitermes curupira?! =P.

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Mas diz a lenda que o curupira é garoto com cabelos de fogo e pés virados para trás, de forma a enganar os que tentam segui-lo. Ele é considerado um protetor das florestas brasileiras, defendendo os animais e as árvores contra os caçadores e madeireiros.

Curupiras mitológicos à parte, I. curupira foi a primeira espécie descrita do gênero Ibitermes – hoje são conhecidas outras duas espécies. O pesquisador Luis R. Fontes a descreveu em 1985 a partir de uma única amostra da cidade de Itabira, MG. Depois disso, ela foi registrada em apenas uma outra localidade, no município de Viçosa, também em Minas Gerais. 

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Por ser muito rara, ainda não há muitas informações sobre esses bichos na literatura. O que sabemos até então, se baseia principalmente na morfologia, e alguns dados moleculares. Assim como os demais cupins do gênero Ibitermes e de toda subfamília Syntermitinae, os soldados dessa espécie utilizam tanto defesa química, quanto defesa física, através do naso e das mandíbulas respectivamente. O naso desses soldados é um tanto incomum, já que a parte superior é meio “inchada”, assim como vocês podem ver na figura aqui em cima.

Outras características marcantes não só de I. curupira, mas de todas as espécies do gênero Ibitermes, é o clípeo inflado no soldado e ausência de dente nas mandíbulas – para a sorte do Fábio Lago, o único curupira desdentado é o cupim. Mas segundo alguns estudos mais recentes, mesmo que os Ibitermes compartilhem essas características, eles não parecem ser parentes tão próximos uns dos outros. Dados moleculares apontam que I. curupira é mais aparentado à espécie Embiratermes robustus do que ao I. tellustris, portanto, essas características podem ter evoluído independentemente nas duas espécies do gênero Ibitermes (e esse gênero não seria então monofilético).

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Esse é um ótimo exemplo de grupo taxonômico onde as características morfológicas dos bichos são uma “pegadinha”. Eles podem não ter os pés virados para trás como os Curupiras, mas suas características podem estar pregando uma peça nos cientistas que buscam rastrear suas “pegadas evolutivas”! 

Por isso é importante estudar os bichos sempre com a maior quantidade de informações possíveis, incluindo a própria morfologia e dados moleculares, mas  também sua ecologia, comportamento, fisiologia, entre outras. Assim, podemos seguir seus passos, mesmo quando os “pés estão virados para trás”. 😉


Texto por Samuel Marques Aguilera Leite.


Referências:

Constantino, R. (1990). Two new species of termites (Insecta, Isoptera) from western Brazilian Amazonia. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, Sér. Zool. 6(1).

Fontes, L. R. (1985). New genera and new species of Nasutitermitinae from the neotropical region (Isoptera, Termitidae). Revta. bras. Zool. S. Paulo 3(1): 7-25.

Galbiati, C., De Souza, O. & Schoereder, J. H. (2005). Diversity Patterns in Termite Communities: Species-Area Relationship, Alpha and Beta Diversity (Isoptera: Termitidae). . Depart. de Biol. Geral; Universidade Federal de Viçosa, Viçosa – MG.

Padre José de Anchieta. Carta ao padre geral de São Vicente ao último de maio de 1560. Reserva da Biosfera da Mata Atlântica.

Ridley, M (2009). Evolução. 3. ed. [s.l.] Artmed Editora. 

Rocha, M. M., Castro, A. C. M. M., Cuezzo, C. & Cancello, E. M. (2017). Phylogenetic reconstruction of Syntermitinae (Isoptera, Termitidae) based on morphological and molecular data. PLoS ONE 12(3): e0174366.

Rocha, M. M., Cancello, E. M. & Carrijo, T. F. (2012). Neotropical termites: revision of Armitermes Wasmann (Isoptera, Termitidae, Syntermitinae) and phylogeny of the Syntermitinae. Systematic Entomology, 37, 793–827.

Vasconcellos, A. (2002). A new species of ibitermes (Isoptera, Termitidae) from the Atlantic Forest, Northeastern Brazil. Iheringia, Sér. Zool., Porto Alegre, 92(2):53-56.

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