No dia a dia, os cupins estão expostos a patógenos, como bactérias, fungos e vírus, que podem causar diversas doenças. Somando-se a isso, suas colônias têm características que facilitam a disseminação dessas doenças entre seus membros, como o fato de terem muitos indivíduos convivendo próximos e que mantêm grande contato social entre si.
Esses fatores, em teoria, são um prato cheio para que doenças possam se transmitir facilmente entre os membros da colônia, o que poderia levar a epidemias. Entretanto, epidemias são raras nos cupins, graças a vários mecanismos de defesa contra patógenos que esses insetos desenvolveram. Um desses mecanismos é semelhante à nossa vacinação!
As vacinas são feitas de patógenos atenuados, inativados ou de apenas parte deles, que nosso corpo reconhece como corpo estranho, o antígeno. Assim, quando tomamos uma vacina, somos expostos a essa versão modificada do patógeno, que não nos causa os sintomas da doença, mas possibilita que nosso sistema imune reconheça os antígenos e forme uma memória imune. Isso significa que se tivermos contato com o patógeno novamente, nosso sistema imune responderá de forma mais rápida e eficiente, prevenindo a manifestação da doença.
A “vacina” dos cupins funciona quando indivíduos contaminados transferem para seus companheiros de ninho uma dose bem pequena do patógeno que carrega em si. Os cupins que tiveram esse contato apresentam uma infecção de baixo nível, sem sintomas da doença, mas desenvolvem uma proteção que os torna menos suscetíveis se tiverem contato novamente com o mesmo patógeno.
A vacinação nos cupins, assim como em nós, funciona como defesa imune em dois níveis: a imunidade individual, como explicado acima, e a imunidade social. A imunização social ocorre quando há uma grande proporção de cupins imunizados em uma colônia, e então a doença passa a ser menos transmitida entre os indivíduos. Isso ocorre porque os cupins imunizados atuam como uma barreira, impedindo a proliferação dos patógenos. Esse fenômeno é conhecido como imunidade coletiva ou “imunidade de rebanho”.
De maneira similar, quando há muitas pessoas vacinadas, a propagação da doença diminui na população, beneficiando todos os membros do grupo. Assim, as vacinas não apenas evitam que os indivíduos contraiam doenças infecciosas (imunização individual), mas também beneficiam os membros do grupo não imunizados por meio da imunidade coletiva (imunização social).
É importante lembrar que em suas colônias, os cupins tomam todas as medidas de imunidade social para evitar a transmissão de doenças entre seus membros. Desse modo, as defesas sociais como: evitar locais infestados, avisar os companheiros de ninho que está doente e usar substâncias antissépticas, estão sempre acontecendo. Aliada a essas estratégias profiláticas, quando muitos indivíduos já foram imunizados, a doença não é mais transmitida e epidemias são evitadas. Do mesmo modo, quando grande parte da nossa população se vacina para alguma doença, casos dessa doença tornam-se cada vez menos comuns, até que a doença seja considerada controlada, ou até mesmo erradicada.
Texto por: Luiza H. B. da Silva & Ives Haifig
Referências
Male, D., Brostoff, J., Roth, D. & Roitt, I. (2012) Immunology. 8th ed. Elsevier, 482 pp.
Masri, L. & Cremer, S. (2014) Individual and social immunisation in insects. Trends in Immunology, 35(10), R471–R482.
Liu, L., Zhao, X.Y., Tang, Q.B., Lei, C.L. & Huang, Q.Y. (2019) The mechanisms of social immunity against fungal infections in eusocial insects. Toxins, 11(5), R1–R21.
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