O livro “A arte da Guerra”, escrito no século IV A.C pelo general e estrategista chinês Sun Tzu, trata de estratégias de guerra e de combate racional. O interessante é que muitas de suas ideias podem ser observadas nas estratégias dos cupins!
Os cupins surgiram a mais de 150 milhões de anos, e estão aqui até hoje, em grande parte, graças às suas adaptações em diversos aspectos, como na arquitetura de suas construções (ninhos, túneis e galerias), comportamento, morfologia, e, como veremos hoje, a defesa protagonizada pela casta dos soldados. Eles são a primeira casta estéril a aparecer no processo de evolução da sociedade dos cupins, e não à toa, sua função primordial é a defesa da colônia . As características dos soldados são muito importantes para a definição das espécies, pois são muito diversas. Elas incluem desde cabeças fortes e robustas, passando por diferentes tipos de mandíbulas e nasos – sendo esse último um aparato para esguichar substâncias químicas (veja o vídeo ao lado).
A habilidade de alcançar a vitória mudando e adaptando-se de acordo com o inimigo é chamada de genialidade”
Sun Tzu
A maioria dessas características foram selecionadas durante milhões de anos de evolução, principalmente para defesa contra formigas, seus maiores inimigos. Apesar de outros animais poderem danificar o ninho dos cupins e se alimentarem deles, apenas as formigas são capazes de exterminá-los por completo. Esta batalha contra as formigas acontece há 100 milhões de anos, e provavelmente foi o que levou a diversidade de estratégias de defesa dos cupins (e de ataques, para as formigas).
Os mecanismos de defesa podem ser mecânicos ou químicos. Os mecânicos vão desde bloquear a passagem de invasores com uma cabeça robusta, até mordidas e “petelecos” dados pelas mandíbulas.
Estas estratégias mecânicas dependem do tipo de cabeça/mandíbula que a espécie possui. Já os mecanismos químicos envolvem substâncias grudentas ou irritantes produzidas por glândulas que são liberadas contra os inimigos. Eles podem liberar em jatos de “cola”, de forma mais líquida “escorrendo” pela cabeça, ou ainda de forma volátil.
No caso mais drástico, o soldado pode estourar a parede do seu corpo, liberando substâncias pegajosas e se matando no processo!
Muitas vezes, defesas químicas e mecânicas são usadas de forma conjunta. Algumas espécies possuem soldados com essa função dupla, e eles ferem o inimigo com as mandíbulas e depois secretam substâncias venenosas ou irritantes nos machucados, que impedem que se curem. Algumas poucas espécies possuem mais de um tipo de soldado, e cada um tem uma estratégia diferente.
“Se o inimigo deixa uma porta aberta, precipitemo-nos por ela”
Sun Tzu
As formigas com certeza possuem essa frase em mente! Mas os cupins não costumam deixar as portas abertas assim. Os soldados de algumas espécies possuem cabeças que são ótimas para bloquear túneis. E apesar de não ter relação com os soldados, algumas espécies criam um labirinto de túneis abertos que ninguém usa. Então, quando um inimigo adentra o labirinto, ele tem que andar muito antes de encontrar alguma presa.
“Não é preciso ter olhos abertos para ver o sol, nem é preciso ter ouvidos afiados para ouvir o trovão. Para ser vitorioso você precisa ver o que não está visível”
Sun Tzu
Os cupins não têm generais e capitães, porém se organizam muito bem. Apesar dos soldados serem cegos, eles possuem um sistema de comunicação através de sinais vibratórios que servem como alarme para os outros indivíduos da colônia em caso de ataque. Isto é usado também em outra estratégia de defesa: o contra-ataque, em que os soldados se concentram no lugar em que o ninho é atacado.
“Concentre-se nos pontos fortes, reconheça as fraquezas, agarre as oportunidades e proteja-se contra as ameaças.”
Sun Tzu
Outras estratégias que demandam organização são bater em retirada para se organizar em pontos chave de defesa (os chamados ”pontos fortes” ), e proteger os operários nas trilhas de forrageamento, dificultando que as formigas os ataquem durante o trabalho.
Conheça o inimigo e a si mesmo e você obterá a vitória sem qualquer perigo; conheça terreno e as condições da natureza, e você será sempre vitorioso.”
Sun Tzu
De fato, como pudemos perceber, os soldados evolutivamente foram um grupo que sofreu diversas alterações (junto com a colônia toda, é claro) que promoveram seus tão eficientes mecanismos de defesa, sejam eles morfológicos ou comportamentais, que possibilitam as vitórias contra os diversos perigos aos quais a colônia está sujeita. Então, após tantas analogias com o tão famoso livro de Sun Tzu, o que mais será que podemos aprender com os cupins?
Texto por Gustavo Pires Matheus
Referências
Bignell, Roisin, Lo. 2011. Biology of termites: a modern synthesis
Prestwich, G. D. Defense mechanisms of termites. Annu. Rev. Entomol. Vol. 29 201–232 (1984) doi:10.1146/annurev.ento.29.1.201.
Hölldobler, Bert, and Edward O. Wilson. The ants. Harvard University Press, 1990.
oi. gostei muito do seu site, vou verificar toda semana as atualizações.Obrigado
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