Heterotermes tenuis

Família: Rhinotermitidae


O cupim dessa semana é a espécie Heterotermes tenuis. Eles são muito abundantes aqui na América do Sul, ocorrendo em toda essa região laranja do mapa. Entre todas as 32 espécies do gênero Heterotermes, ela é a mais fácil de se encontrar. Apesar de sua abundância, pouco se sabe sobre a biologia desses animais, afinal seus ninhos são bem escondidos e protegidos dentro de madeira podre ou em cascas de troncos mortos. Provavelmente, se você andar em alguma trilha por aí, vai passar perto deles e nem se dará conta de que ali está cheio de H. tenuis. Se você der sorte, pode até encontrar esses espertinhos morando em ninhos abandonados por outras espécies como as de Cornitermes, ou em galhos caídos.

Esses danadinhos são bem conhecidos pelos estragos econômicos que causam aos seres humanos, não só em regiões urbanas (comendo livros/jornais e móveis), mas também como pragas rurais que causam danos às plantações de mandioca, milho, amendoim, cana-de-açúcar, árvores frutíferas, entre outras. Para você ter uma ideia, em 2004 o dano que esses carinhas causavam em plantações de cana-de-açúcar estava avaliado em aproximadamente 500 dólares por hectare – isso é quase um MacBook para cada hectare! Se você pensar que no Brasil há mais de 9 milhões de hectares de plantações de cana-de-açúcar, já dá pra perceber o estrago que eles podem causar.

Uma característica muito marcante em H. tenuis, é que os soldados não são todos iguais, as colônias costumam ter dois tipos de soldados morfologicamente diferentes. Um deles possui a cabeça um pouco mais comprida e cilíndrica (soldado 1 da figura ao lado), enquanto o outro possui cabeça menor e mais arredondada (soldado 2 da figura ao lado), mas ambos possuem muitas cerdas na cabeça, mandíbulas compridas e estreitas.

Normalmente, quando ocorre infestação desses cabeçudinhos em alguma plantação por aí, utiliza-se agrotóxicos no combate à praga. Mas como se sabe muito bem, agrotóxicos são prejudiciais não só para os cupins, mas também para você, que consome os produtos dessas plantações, e para quem trabalha nelas. Só entre 2007 e 2014, mais de 30 mil pessoas foram intoxicadas com agrotóxicos, entre elas, mais de 3 mil crianças. Isso sem contar nos efeitos indiretos deles e nos custos. Por isso, é de extrema importância que se desenvolvam novas técnicas através de pesquisa científica, que reduzam o impacto desses cupins  nas plantações sem prejudicar os ecossistemas e nossa saúde. 

Talvez o avanço de pesquisas científicas possa até trazer os cupins para trabalharem ao nosso favor, já pensou se a cada colheita, deixássemos a palha da cana no solo?! Será que eles iriam optar por comer a cana de açúcar viva ou a palha da colheita anterior? Se eles optarem por comer a palha, talvez eles até aumentariam a produtividade da plantação, ajudando com  aeração do solo, aumento de matéria orgânica depositada nele, ciclagem de nutrientes, etc. Similar com o que já foi discutido nesse texto.

Com certeza precisamos de mais pesquisas nessa linha, e sim! Isso é um convite para você começar a trabalhar com cupins! ;-).


Texto: Samuel Marques Aguilera Leite


Referência:

Bombardi, B. (2017). Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com União Europeia. Laboratório de Geografia Agrária – FFLCH – USP.

Dados de intoxicações por agrotóxicos de uso agrícola (2007-2014). Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) – Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

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Camargo-Dietrich, C.R.R & Costa-Leonardo, A.M. (2003). População e território de forrageamento de uma colônia de Heterotermes tenuis (Hagen) (Isoptera, Rhinoter Rhinotermitidae). Rev. Bras. Zool.,  Curitiba ,  v. 20, n. 3, p. 397-399.

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