Glossotermes oculatus

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Nosso cupim dessa semana é a espécie Glossotermes oculatus, que foi descrita em 1950 a partir de um único soldado encontrado na Guiana. Ela está distribuída pela maior parte da Amazônia e constrói ninhos dentro de troncos podres. Não se sabe exatamente o que comem, mas provavelmente fazem uso da madeira que os abriga e outras próximas, uma vez que eles também podem ser encontrados no solo forrageando.

O gênero Glossotermes possui somente mais uma espécie, G. sulcatus, cujas aleluias e operários possuem mandíbulas com dentes apicais grandes, alongados e afiados, dentes marginais menores, e um terceiro dente marginal somente na mandíbula esquerda (como vocês podem ver na ilustração ao lado). Essas características também estão presentes em G. oculatus, a outra única espécie do gênero, e elas que caracterizam o gênero Glossotermes.

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É muito provável que esse padrão de dentição da mandíbula que acabamos de descrever é o que chamamos de sinapomorfia de Glossotermes. Vale lembrar que uma sinapomorfia é uma novidade evolutiva de um determinado grupo natural de seres vivos, ou seja, um grupo que inclui o ancestral comum mais recente e todos os seus descendentes (que também tem o nome chique de “grupo monofilético”). Sendo assim, esse padrão de dentição está presente nos Glossotermes, como também no ancestral comum mais recente do grupo. Vale ressaltar que os Serritermes – parentes vivos mais próximos de Glossotermes – não possuem esse padrão de dentição, ou seja, essa característica provavelmente não estava no ancestral comum de ambos grupos (que são os dois únicos gêneros da família Serritermitidae).

Apesar das semelhanças compartilhadas pelas duas espécies de Glossotermes, podemos diferenciar ambas por meio de algumas características dos soldados: os de G. oculatus são maiores e possuem cabeças com cantos mais arredondados e mandíbulas menos erguidas em comparação com G. sulcatus.

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Uma outra característica do nosso cupim da semana é que ele não possui operários verdadeiros. Eles possuem  o que chamamos de pseudergates ou falsos operários – se quiser saber mais sobre eles, é só clicar aqui! Além disso, suas colônias costumam ter muito mais machos do que fêmeas. Isso porque a casta de soldados é exclusivamente composta por machos, enquanto que nos (falsos) operários, a grande maioria é macho durante boa parte do ano, mas isso muda conforme a época do ano. 

Em tempos de revoada, a colônia produz fêmeas o suficiente para praticamente igualar essas proporções. Essas fêmeas são muito importantes para a reprodução e fundação de novas colônias, mas durante o seu desenvolvimento, quando ainda estão dentro da colônia mãe, também auxiliam com os serviços dos operários. Essa variação na proporção de machos e fêmeas é relativamente comum  em espécies com operários verdadeiros, mas rara em espécies com falsos operários, o que torna G. oculatus bastante incomum. 

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Nessa espécie também há dimorfismo sexual, ou seja, as fêmeas são maiores do que machos, mas somente em duas etapas do desenvolvimento, nos estágios de ninfa e de aleluia, enquanto que nas fases anteriores (quando ainda não desenvolveram brotos alares) os machos são maiores. Entre os cupins, é mais comum que as fêmeas sejam sempre maiores, e em todas as fases da vida. Ter machos maiores durante a fase larval torna G. oculatus também incomum nesse aspecto.

Texto por: Samuel Aguilera

Referências:

Apolinário F. E. & Martius, C. (2004). Ecological role of termites (Insecta, Isoptera) in tree trunks in central Amazonian rain forests. Forest Ecology and Management 194, 23–28.

Bourguignon, T., Sobotnik, J., Hanus, R. & Roisin, Y. (2009). Developmental pathways of Glossotermes oculatus (Isoptera, Serritermitidae): at the cross-roads of worker caste evolution in termites. Evolution & Development, 11:6, 659–668.

Cancello, E. M. & DeSouza, O. (2004). A New Species of Glossotermes (Isoptera): Reappraisal of the Generic Status with Transfer from the Rhinotermitidae to the Serritermitidae. Vol. 44, No. 3.

Emerson, A. E. (1950). Five new genera of termites from South America and Madagascar (Isoptera, Rhinotermitidae, Termitidae). American Museum Novitates. No. 1444.

Mathews, A.G.A. (1977). Studies on Termites from the Mato Grosso State, Brazil. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências.

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