Cupim da semana!
Família: Termitidae
Subfamília: Syntermitinae
O gênero Rhynchotermes é composto por cupins muito simpáticos, com soldados que usam defesa mista: possuem nasos longos para lançar uma substância irritante nos antagonistas e possuem também mandíbulas poderosas. São conhecidas sete espécies no gênero, que podem ou não apresentar dois tipos de soldado (em geral um maior e um menor).
Um comportamento muito interessante observado na espécie Rhynchotermes perarmatus (que ocorre na América Central, Colômbia e Equador) é a escolta realizada pelos soldados enquanto os operários saem para forragear (olha o vídeo abaixo, que gracinha!). Os soldados ficam com seus nasos levantados e as mandíbulas abertas numa postura “ameaçadora” enquanto os operários fazem uma fila de mão dupla partindo da entrada do ninho até o recurso alimentar.
Do pouco que conhecemos do hábito alimentar desses cupins, inferimos que eles sejam ceifadores, ou seja, que saiam para cortar e recolher pedaços de folhas secas. Curiosamente, a espécie R. nasutissimus (muito comum no Centro-Oeste e Sudeste do Brasil) foi observada consumindo restos da carcaça de rato num experimento de entomologia forense. Isso é bastante incomum e deve sinalizar que aquela colônia estava sofrendo com a falta de algum nutriente.
Outra curiosidade sobre esses cupins é em relação ao nome de uma das espécies: Rhynchotermes matraga. Ele foi nomeado para homenagear uma das personagens de João Guimarães Rosa: Augusto Matraga. O registro de ocorrência desse cupim é Minas Gerais, região que é cenário de vários trabalhos de Guimarães Rosa. No conto “A hora e a vez de Augusto Matraga” o autor compara o trabalho do personagem que está trilhando um caminho em busca de rendenção, aos cupins no pasto que levantam ninhos “sem esforço nenhum”:
Quem quisesse, porém, durante esse tempo, ter dó de Nhô Augusto, faria grossa bobagem, porquanto ele não tinha tentações, nada desejava, cansava o corpo no pesado e dava rezas para a sua alma, tudo isso sem esforço nenhum, como os cupins que levantam no pasto murundus vermelhos, ou como os tico-ticos, que penam sem cessar para levar comida ao filhote de pássaro-preto— bico aberto, no alto do mamoeiro, a pedir mais.
(A hora e a vez de Augusto Matraga, Guimarães Rosa)
Texto por Joice Constantini
Publicado originalmente em 18/05/2018
Referências:
Constantini, J. P., & Cancello, E. M. (2016). A taxonomic revision of the Neotropical termite genus Rhynchotermes (Isoptera, Termitidae, Syntermitinae). Zootaxa, 4109(5), 501-522.
Guimarães Rosa, J. (2001). A hora e vez de Augusto Matraga. In: Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. Editora Nova Fronteira.
Scheffrahn, R. H. (2010). An extraordinary new termite (Isoptera: Termitidae: Syntermitinae: Rhynchotermes) from the pasturelands of northern Colombia. Zootaxa, 2387(1), 63-68.