Família: Rhinotermitidae
Esta semana trazemos à vocês um cupim que é quase um Pablo Picasso, mas digamos que suas “pinceladas” são um pouco mais violentas. Apresentamos: Rhinotermes marginalis, uma espécie descrita em 1758, por ninguém mais, ninguém menos que Lineu (não, não é o Lineu da grande família), o sueco que inventou esse jeito científico de nomear as espécies, que chamamos de “nomenclatura binomial”.
Já percebeu que todas as espécies possuem duas palavras em seus nomes científicos? Não diferente disso, nosso cupim da semana carrega o nome do gênero ao qual ele pertence (“Rhinotermes”), e a segunda palavra (“marginalis”), é o que chamamos de “epíteto específico”, sim, é um nome bem feio, mas basicamente é ele que caracteriza a espécie dentro do gênero. Para exemplificar, dentro do gênero Rhinotermes temos as seguintes espécies vivas descritas: Rhinotermes hispidus, Rhinotermes manni, Rhinotermes marginalis e Rhinotermes nasutus. Todas elas carregam consigo o nome do gênero Rhinotermes, mas o segundo nome que as diferenciam entre si (é como se fosse o nosso sobrenome, que indica quem são seus parentes próximos, mas no esquema do Lineu esse nome vem antes). Além desse grande feito, Lineu também é considerado como pai da taxonomia moderna, que é a forma como organizamos e classificamos os seres vivos. Cupins são chamados de “insetos”, assim como humanos são chamados de “mamíferos”, graças ao trabalho de classificação dos seres vivos realizado por Lineu.
Mas voltando para o nosso cupim da semana, os R. marginalis são cupins neotropicais, ou seja, vivem na região tropical da América. Se alimentam de madeira, assim como todos os cupins da família Rhinotermitidae (Por exemplo: Coptotermes gestroi e Heterotermes tenuis, que já foram nossos cupins da semana).
As espécies do gênero Rhinotermes possuem como característica a presença de dois tipos de soldados muito diferentes. Os soldados menores possuem cabeça em formato pentagonal, com um labro comprido e estreito que parece um pincel (assim como nessa figura aqui ao lado). Ele auxilia a secreção de substâncias nocivas que ficam estocadas no abdôme, e são utilizadas para defender a colônia de invasores – como eu disse lá em cima, o jeito como esses cupins usam o “pincel” é bem mais violento que Picasso. Esses soldados também possuem mandíbulas, porém, muito reduzidas.
Os soldados maiores possuem cabeça em formato retangular e não utilizam estratégia de defesa química como os soldados menores, mas sim defesa mecânica, já que possuem mandíbulas muito bem desenvolvidas em formato de pinça. Na espécie R. marginalis, esses soldados maiores possuem um labro largo, com comprimento menor que os de outras espécies do mesmo gênero. No geral, os soldados desta espécie também apresentam menos cerdas na cabeça que seus primos próximos.
Em Belém – PA, os Rhinotermes marginalis já foram reportados como pragas em madeiras de edificações. Apesar disso, estes insetos não se adaptam muito bem a ambientes urbanos, menos ainda ao ambiente doméstico, então os danos que causam aos seres humanos são muito pequenos. Normalmente optam por madeira que está exposta a intempéries, especialmente úmidas e em contato com o solo.
Texto por: Samuel Marques Aguilera Leite
Referências:
Bandeira, A. G.; Gomes, J. I.; Lisboa, P. L. B. & Souza, P. C. S. (1989). Insetos pragas de madeiras de edificações em Belém – Pará. (Boletim Técnico no. 101). Belém: EMBRAPA-CPATU.
Castro, D.; Scheffrahn, R. (2019). A new species of Acorhinotermes Emerson, 1949 (Blattodea, Isoptera, Rhinotermitidae) from Colombia, with a key to Neotropical Rhinotermitinae species based on minor soldiers. ZooKeys 891:61-70.
Constantino, R. (2002). An illustrated key to Neotropical termite genera (Insecta: Isoptera) based primarily on soldiers. Zootaxa 67: 1-40.
Emerson, A.E. 1925. The termites of Kartabo, Bartica District, British Guiana. Zoologica (New York) 6 (4): 291-459.
Prestwich, G.F. & Collins, M.S. (1982). Chemical Defense Secretions of the Termite Soldiers of Acorhinotermes and Rhinotermes (Isoptera, Rhinotermitinae): Ketones, Vinyl Ketones, and/3-Keto Aldehydes Derived from Fatty Acids. Journal of Chemical Ecology
Prestwich, G.D. (1984). Defense mechanisms of termites. Annual Review of Entomology 29: 201-232.