Família: Termitidae
Subfamília: Syntermitinae
O cupim da semana está de volta com uma espécie do Cerrado brasileiro, o Procornitermes araujoi, descritos em 1952 por Alfred Emerson. Os soldados dessa espécie, como todos os Syntermitinae, utilizam tanto defesa mecânica, quanto química, através de substâncias expelidas pelo naso. Suas mandíbulas são bem pontiagudas e possuem a cabeça num tom alaranjado, levemente retangular quando vista de cima, mas com a parte da frente um pouco mais estreita.
O ninho desses cupins são arredondados, cujas paredes externas são grossas, mas não tão rígidas, construídas com pedaços de solo e fezes. É comum que microrganismos se alojem nas paredes dos ninhos de cupins e contribuam para que se forme um ambiente microbiano interno bem diferente daquele fora do ninho, chamamos esse pequeno ambiente de termitosfera. Nas paredes dos ninhos de P. araujoi, Proteobactérias e Actinobactérias são muito abundantes. Especula-se que essas Actinobactérias podem atuar na defesa da termitosfera, mas ainda é preciso investigar mais.
Como você já deve ter visto em alguns de nossos textos, não é só a parede do ninho que carrega microrganismos úteis aos cupins. Seus intestinos também carregam uma grande diversidade deles, que varia de acordo com o tipo de alimento que esses animais ingerem. Aqueles que se alimentam de madeira, tem o intestino rico em Fibrobactérias e Espiroquetas, conhecidas por atuarem na digestão da celulose – o que faz muito sentido. Já os cupins que se alimentam de gramíneas ou serrapilheira (folhas e gravetos que caem no chão da mata) têm uma microbiota intestinal composta principalmente por bactérias que chamamos de Firmicutes.
Quando comparou-se a diversidade de microrganismos encontrados no intestino do nosso cupim da semana, com aquela encontrada no intestino de comedores de grama e serrapilheira, perceberam que a diversidade de microrganismos no intestino de P. araujoi é maior. Isso coincide com a maior variedade de alimentos que ele é capaz de ingerir. Seus operários já foram vistos forrageando em gramíneas, serrapilheira, húmus, esterco e vegetal vivo! Então, a grande diversidade de microrganismos do intestino de P. araujoi provavelmente auxilia na digestão de sua também diversa alimentação.
O lado ruim dessa grande diversidade nutricional, é que eles também podem se alimentar do que plantamos. Nesse caso, eles podem se tornar pragas, atacando as raízes do arroz logo após a germinação, principalmente em regiões onde o solo é mais arenoso. Até as plantas atingirem cerca de 25 centímetros são mais vulneráveis aos ataques, e começam a dar sinais de estresse hídrico (folhas secas e dobradas). Apesar dessa má fama que os P. araujoi carregam, ainda faltam pesquisas que esclareçam melhor o tamanho do impacto econômico gerado por esses bichinhos.
Autor: Samuel Marques Aguilera Leite
Referências:
Cancello, E. M. (1986). Revisão de Procornitermes Emerson (Isoptera, Termitidae, Nasutitermitinae). Papéis Avulsos de Zoologia: Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, Vol. 36, Art. 19, pp. 189-236.
Emerson, A. E. (1952). The Neotropical Genera Procornitermes and Cornitermes (Isoptera, Termitidae). Bulletin of the American Museum of Natural History, NY, Vol. 99, Art. 8.
Moreira, E. A., Alvarez, T. M., Persinoti, G. F., Paixão, D. A. A., Menezes, L. R., Cairo, J. P. F., Squina, F. M., Costa-Leonardo, A. M., Carrijo, T., Arab, A. (2018). Microbial Communities of the Gut and Nest of the Humus- and Litter-Feeding Termite Procornitermes araujoi (Syntermitinae). Curr Microbiol 75, 1609–1618.