Cupim da semana!
Família: Termitidae
Subfamília: Termitinae
O gênero Inquilinitermes foi descrito pelo britânico Anthony G. Mathews [1] para acomodar espécies que são exclusivamente encontradas nos ninhos de diferentes espécies do gênero Constrictotermes (Nasutitermitinae). Hoje o gênero possui quatro espécies conhecidas [2].
As espécies I. fur e I. microcerus são inquilinos obrigatórios da espécie Constrictotermes cyphergaster. As porções do ninho ocupadas por essas espécies consistem de um material duro e de coloração escura, chamado de massa preta. Essa massa preta consiste num montante acumulado de excretas do hospedeiro [1], [3]–[5].
É interessante destacar que jamais se encontram as duas espécies no mesmo ninho. Esse fato curioso gera especulações dos pesquisadores sobre uma possível competição entre as espécies inquilinas pela ocupação do habitat (a massa preta dentro do ninho).
A massa preta não é apenas o local onde os Inquilinitermes vivem, mas também o seu alimento. Esse alimento consiste de partículas extremamente duras, e os operários são comumente encontrados com os dentes das mandíbulas bastante desgastados, devido à manipulação dessas estruturas.
Os indivíduos dessas espécies se movem vagarosamente, mas não são indefesos. Os soldados das espécies de Inquilinitermes possuem longas e finas mandíbulas do tipo slapping (que dão um peteleco no adversário), e os operários podem auxiliar na defesa, contorcendo o abdome lateralmente e excretando [6].
A história natural desse gênero ainda é pouco conhecida, tendo como questões principais para investigação:
1) Como se deu a evolução do inquilinismo específico entre os gêneros Inquilinitermes e Constrictotermes?
2) O hospedeiro tem algum ganho com essa interação? Essa interação seria um tipo de mutualismo? Ou ele não ganha e nem perde, e a interação seria classificada como um comensalismo? Ou ainda, as espécies de Constrictotermes seriam prejudicadas pela presença do Inquilinitermes, e poderíamos classificar essa interação como parasitária?
Esses aspectos permanecem sem esclarecimento. Mas um caso curioso foi reportado por Apolinario e Martius [7], que encontraram a espécie Inquilinitermes cf. inquilinus (um hóspede de C. cavifrons), em um ninho dentro de um tronco, sem o hospedeiro. É possível que a identificação esteja incorreta, podendo ser na verdade algum outro gênero próximo. Ainda, recentemente foi descrita uma espécie para o gênero que não é inquilina de Constrictotermes, mas sim de Cornitermes (Syntermitinae) [8]. Mas aparentemente essa espécie não pertence ao gênero Inquilinitermes, mas sim ao gênero Termes [M.M.Rocha, comunicação pessoal].
Texto por Igor E. Moreira
Publicado originalmente em 06/07/2018
Referências:
[1] A. G. A. Mathews.Studies on Termites from the Mato Grosso State, Brazil. Rio de Janeiro, RJ, 1977.
[2] R. Constantino, “On-line termite database”, 2018.
[3] A. E. Emerson, “Termite nests – A study of the phylogeny of behavior”, Ecol. Monogr., vol. 18, no 2, p. 247–284, 1938.
[4] R. L. Araujo, “Termites of the Neotropical Region”, in Biology of Termites, K. Krishna e F. M. Weesner, Orgs. Academic Press of London, 1970, p. 527–576.
[5] R. L. Araujo, “Neotropical termite studies (Isoptera)”, Rev. Bras. Entomol., vol. 14, no 2, p. 11–27, 1970.
[6] G. D. Prestwich, “Defense Mechanisms of Termites”, Annu. Rev. Entomol., vol. 29, no 1, p. 201–232, jan. 1984.
[7] F. E. Apolinario e C. Martius, “Ecological role of termites (Insecta, Isoptera) in tree trunks in central Amazonian rain forests”, For. Ecol. Manag., vol. 194, no 1–3, p. 23–28, 2004.
[8] R. H. Scheffrahn, “Inquilinitermes johnchapmani, a New Termite (Isoptera: Termitidae: Termitinae) from the Llanos of North Central Bolivia”, Sociobiology, vol. 61, n° 1, p. 95-99, 2014.