Hoje é o dia dos trabalhadores e o Wikitermes preparou uma surpresa para esses queridos membros da nossa “colônia”! Em homenagem a esse dia tão importante, que traz uma série de reflexões sobre os direitos e conquistas de quem move a nossa sociedade, vamos falar de um pequeno trabalhador muito dedicado e também muito importante para a sociedade em que vive, o cupim operário.
Não se deixe enganar pelo tamanho desses bichinhos, pois o trabalho deles não é pra qualquer um. Eles são os responsáveis por construir aqueles enormes cupinzeiros, que pra eles são como arranha céus, e todas as estruturas e túneis por onde os cupins da colônia andam e vivem.
A alimentação de toda a colônia também é responsabilidade deles, e vamos combinar, não deve ser fácil alimentar aquele tanto de boca. Como se não bastasse o risco de sair por aí para buscar comida, eles dão a comida, literalmente, mastigada na boca dos outros integrantes da colônia, e se não fazem isso, todos morrem de fome, pois os demais não buscam comida. Esses outros são folgados, viu?!
Os cupins se alimentam de material vegetal em praticamente qualquer estado de decomposição, desde madeira dura e seca, ou já úmida e um pouco decomposta, até mesmo terra rica em matéria orgânica (húmus). Cada espécie de cupim tem um cardápio preferido. Muitas vezes, para levar o alimento à colônia, é preciso cortá-lo e essa tarefa exige que os operários tenham uma mandíbula muito forte. Na família Kalotermitidae, por exemplo, as mandíbulas são fortemente reforçadas com zinco, permitindo que eles quebrem madeira seca, por mais resistente que ela seja. Além das mandíbulas, muitos também possuem os corpos um pouco mais reforçados, principalmente os que saem do cupinzeiro, afinal, ficam expostos a riscos.
A casta dos operários, na maioria dos casos, é inteiramente cega. Durante a evolução dos cupins, esses indivíduos perderam os olhos compostos e ocelos, normalmente encontrados nos príncipes e princesas (os alados), e reis e rainhas das colônias. Sim, é isso mesmo, eles fazem tudo o que fazem, mesmo sendo cegos. Isso porque eles utilizam outros sentidos, como a “audição” e “tato”, que percebem vibrações e toque, e o “olfato” que capta diversas substâncias químicas, fazendo com que eles possam perceber o ambiente ao seu redor.
Além de todas as outras tarefas que já citamos acima, os operários também são as babás da colônia. Cuidam dos jovens e fazem a higienização do ninho (isso mesmo, eles são bem higiênicos, como você pode ver neste texto).
Quando pensamos na defesa do cupinzeiro contra predadores e competidores, todo mundo já imagina que vamos falar dos soldados, né?! Mas muitas espécies possuem relativamente poucos soldados, e algumas delas, simplesmente não possuem. Nesses casos, se não bastasse fazer tudo o que já falamos, os operários também podem ficar responsáveis pela defesa da colônia.
As estratégias são das mais variadas, desde morder (apesar de não tão eficiente, por terem mandíbulas pequenas), até literalmente defecar nos “inimigos” ou mesmo “explodir-se” para atrasar os invasores e proteger os demais membros da colônia. Além disso, durante a própria construção dos ninhos, os operários criam túneis não habitados que servem como labirintos, atrasando e inibindo o avanço de predadores, como as formigas. Engenhosos, não?!
Apesar de serem extremamente importantes para a manutenção das colônias, os cupins operários da maioria das espécies não possuem capacidade de se reproduzirem. Eles nunca desenvolvem as gônadas, e por isso são considerados como “jovens” a vida toda (isso mesmo, nos cupins o trabalho infantil é regra). Esses organismos super altruístas normalmente abrem mão da reprodução para garantir que o rei e rainha consigam gerar o maior número possível de príncipes e princesas (alados) que sairão por aí colonizando outros terrenos, e levando seus genes adiante indiretamente – uma vez que os operários são irmãos desses alados.
Mas nem todos os operários são estéreis. Algumas espécies possuem os chamados “falsos operários”. A grande diferença é que os falsos operários são na verdade indivíduos que “estão” operários, e não “são” operários. Isto é, eles possuem um grande flexibilidade de desenvolvimento e permanecem como operários enquanto “lhes convém”. Mas quando der na telha, eles podem simplesmente se desenvolverem, criar asas e voar (literalmente), ou ficarem no ninho e assumir o papel do rei ou da rainha, caso algum deles morra, por exemplo.
Assim como os cupins operários, os trabalhadores humanos devem ser devidamente reconhecidos pelo papel que exercem em seus grupos sociais. Afinal, o que seria de nossa sociedade sem o trabalho colaborativo das pessoas?! O que seria da rainha e do rei sem os operários para construir seus ninhos, cuidar de seus filhos e prover alimento?! Portanto, feliz primeiro de maio às trabalhadoras e trabalhadores, de todas as profissões. Vocês são essenciais para o mundo, assim como os cupins operários são para suas colônias.
Texto por Samuel Marques Aguilera Leite
Publicado originalmente em 01/05/2020
Referências:
Bignell, D. E., Roisin, Y., & Lo, N. (Eds.). (2010). Biology of termites: a modern synthesis. Springer Science & Business Media..
Šobotník, J., Jirošová, A., & Hanus, R. (2010). Chemical warfare in termites. Journal of Insect Physiology, 56(9), 1012-1021.
Šobotník, J., Bourguignon, T., Hanus, R., Demianová, Z., Pytelková, J., Mareš, M., … & Roisin, Y. (2012). Explosive backpacks in old termite workers. Science, 337(6093), 436-436.
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