Cupim da semana!
Família: Termitidae
Subfamília: Termitinae
O cupim dessa semana é a espécie Cavitermes tuberosus. Assim como as outras espécies do gênero Cavitermes, C. tuberosus é um cupim inquilino, ou seja, não constrói seu próprio ninho, e em vez disso, ela coloniza os ninhos de outras espécies de cupins (folgados, não?). Um exemplo de ninho ocupado são os ninhos arborícolas de Labiotermes labralis.
Mas a vida de inquilino exige adaptações, e os Cavitermes são particularmente interessantes neste quesito: conseguem colonizar ninhos de diversas espécies e ainda alimentar-se do próprio ninho onde vivem! Estudos com a espécie C. tuberosus mostraram que eles possuem uma microbiota intestinal muito mais diversa se comparado com aquelas das espécies hospedeiras. Segundo os autores, essa é uma importante adaptação, já que esta microbiota auxiliará na digestão dos variados materiais dos quais os ninhos são construídos.
Os C. tuberosus também possuem uma estratégia de reprodução peculiar, conhecida como “sucessão assexuada da rainha”. Aqui no Wikitermes temos um texto que fala sobre isso, mas, resumidamente, as rainhas conseguem gerar filhas sem a fecundação do óvulo (ou seja, sem a necessidade do macho), então elas irão herdar apenas o seu material genético (verdadeiros clones da rainha). Essas filhas serão rainhas com características de ninfas (neotênicas), que são chamadas de rainhas secundárias, e que podem substituir a rainha primária caso ela morra, ou mesmo conviverem com ela e complementarem a reprodução da colônia. É tipo um jutsu de clones reprodutores.
Esta forma de reprodução assexuada é tão especializada em C. tuberosus que as rainhas neotênicas possuem uma fase intermediária de desenvolvimento. Na fase intermediária são conhecidas como “aspirantes”, e vivem uma vida normal, realizando as mesmas tarefas dos cupins operários (só porque é um clone da rainha, não significa que a vida vai ser fácil), até a possível morte da rainha. As rainhas neotênicas são menores, possibilitando que elas transitem nas galerias apertadas (provavelmente uma adaptação para vida inquilina), ação que a rainha primária não consegue realizar, por conta do abdome volumoso.
Uma outra curiosidade sobre nosso cupim da semana é que na linhagem áptera (daqueles indivíduos que irão dar origem aos operários e/ou soldados), existe um desvio entre os sexos e as castas. Nos cupins, de uma forma geral, tanto operários quanto soldados são machos e fêmeas. Nos C. tuberosus, entretanto, a maioria dos operários são machos, enquanto que todos os soldados são na verdade soldadas (fêmeas)! As soldadas são altamente armadas, possuem tanto defesa mecânica, com mandíbulas longas que dão petelecos nos invasores de suas galerias, quanto química, excretando substâncias produzidas por uma glândula na cabeça.
Texto: Gabriel Olivieri
Referências:
Fournier D, Hellemans S, Hanus R, Roisin Y. Facultative asexual reproduction and genetic diversity of populations in the humivorous termite Cavitermes tuberosus. Proc. R. Soc. B 283. 2016.
Hellemans, S., Fournier, D., Hanus, R., et al. “Secondary queens in the parthenogenetic termite Cavitermes tuberosus develop through a transitional helper stage”, Evolution and Development, v. 19, n. 6, p. 253–262, 2017.
Hellemans, S., Marynowska, M., Drouet, T., et al. “Nest composition, stable isotope ratios and microbiota unravel the feeding behaviour of an inquiline termite”, Oecologia, v. 191, n. 3, p. 541–553, 2019.
Krishna, K. “A new species, Cavitermes rozeni (Isoptera: Termitidae: Termitinae), from Brazil”, Journal of the Kansas Entomological Society, v. 76, n. 2, p. 92–95, 2003.
Mathews, A. G. A. Studies on Termites from the Mato Grosso State, Brazil. Academia Brasileira de Ciências. p. 117-120, 1977.