Você já parou para pensar que cupins ficam doentes? E que por viverem em uma grande sociedade, uma doença infecciosa pode significar o fim de toda a colônia? É por isso que, diante de um companheiro de ninho infectado, os cupins desempenham alguns comportamentos que irão variar de acordo com o grau de infecção. Tudo isso para tentar conter essa infecção e não causar grandes prejuízos para a colônia. Mas como os cupins percebem um companheiro doente? E quais medidas eles tomam?
Imagine como é a vida dentro de um cupinzeiro. É puro breu! Não há qualquer luz, e então basicamente ninguém enxerga ninguém ali (um gato-mia 24 horas por dia!). Sendo assim, toda a comunicação dentro do cupinzeiro é feita através de sinais químicos (o cheiro), mecânicos (através do contato direto) e também por vibrações, que movimentam tanto o ar ao redor do indivíduo, e liberam mais sinais químicos, quanto utilizando a própria parede do ninho. Um cupim doente pode apresentar alterações nesses sinais, como por exemplo nos compostos químicos presentes em sua cutícula (parte da capinha externa que protege o corpo dos insetos – o exoesqueleto). Dessa forma, seus companheiros de ninho também percebem a manifestação da infecção. Além disso, sinais químicos vitais tendem a diminuir nesses indivíduos, e também servem como pista de seu estado infeccioso.
Ao encontrar um cupim doente, operários da espécie subterrânea Reticulitermes flavipes tendem a limpá-lo com mais frequência conforme o grau de infecção aumenta. No entanto, quando o cupim atinge um estágio infeccioso crítico, tornando-se moribundo, um comportamento um pouco mais mórbido entra em cena: o canibalismo! Sim, isso mesmo, quando um cupim está quase morrendo, e provavelmente não tem mais chances de se recuperar, os seus companheiros o comem ainda vivo.
Portanto, é importante não só reconhecer os sinais de que uma doença apareceu na colônia, mas também quais comportamentos desempenhar para conter essa ameaça. Esses podem incluir um vasto repertório, que vai desde a limpeza do companheiro até o seu consumo!
Mas e se por acaso aparecer um cadáver na colônia, isto é, ele morreu mais rápido do que seus companheiros puderam perceber, e não o comeram antes. Ele é enterrado? Ou devorado mesmo depois de morto?
Mais uma vez, diferentes comportamentos podem ser desencadeados diante da morte de um companheiro. Em alguns casos, o corpo do cupim é enterrado ou colocado em câmaras específicas dentro do ninho, de modo a isolá-lo do resto da colônia, diminuindo as chances de que a doença se espalhe (tipo um cemitério). Em outros casos, o corpo pode ser simplesmente ignorado e deixado lá para que os fungos e bactérias façam o serviço de decomposição.
No cupim de madeira seca Cryptotermes brevis, entretanto, a presença de cadáveres dentro da colônia (seja este um companheiro de ninho, ou mesmo um intruso da mesma espécie ou de outra) aciona um comportamento de canibalismo por parte dos operários da colônia. Novamente, o cupim é devorado pelos outros, os quais normalmente deixam para trás somente a cabeça, que é a região mais esclerotizada (e dura) do corpo.
Além da explicação associada ao controle na proliferação de doenças, existe ainda uma segunda explicação evolutiva para esses comportamentos de canibalismo entre os cupins. Esse comportamento pode se dar também porque o consumo de corpos mortos favorece a aquisição de nitrogênio e água pelos cupins, uma vez que esses recursos são extremamente limitados dentro de um pedaço de madeira (que é tanto o alimento quanto a casa das espécies de Cryptotermes, por exemplo).
Texto por Iago Bueno
Publicado originalmente em 17/10/2019
Referências
Silva, L. e Costa-Leonardo, A. M., 2018. Behavioural repertoire of termites in corpse management: A comparison between one-piece and multiple-pieces nesting termite species. Behavioural Processes.
Davis, H., Meconcelli, S., Radek, R., McMahon, D., 2018. Termites shape their collective behavioural response based on stage of infection. Scientific Reports.