Amitermes meridionalis

Família: Termitidae

Subfamília: Termitinae


Os ninhos dos cupins estão entre as construções mais fascinantes e únicas do reino animal. Em alguns casos podem até ser usados como forma de identificar e diferenciar a espécie que a constrói. Não se engane, os ninhos dos cupins não são meras vaidades, mas sim adaptações complexas para a sobrevivência. Esse é caso do cupim da semana, o Amitermes meridionalis ou, como é conhecido popularmente, o cupim magnético ou cupim bússola!

Wikitermes, 2020

São cupins endêmicos da Austrália, mais especificamente da região norte do país. Seus ninhos podem chegar a 4 metros de altura e 3 metros de comprimento, e possuem um formato de placa vertical, algo extremamente raro na natureza e que é observado apenas em outras duas espécies também australianas, e também do gênero Amitermes. Raramente esses ninhos são vistos sozinhos, eles costumam formar aglomerados que variam entre 20 a 100 ninhos em uma mesma localidade, geralmente um campo. Não à toa, muitos dizem que os aglomerados de ninhos do  A. meridionalis lembram um cemitério, neste caso com lápides gigantes!

Os nomes populares, cupim magnético ou cupim bússola, também é por causa do ninho. Pois todos os ninhos desta espécie estão orientados em uma mesma direção: norte-sul (veja a imagem ao lado). É como se os ninhos destes cupins fossem bússolas guiadas pelo campo magnético da terra (Então se você estiver perdido na Austrália e ver esses cupinzeiros, pelo menos os pontos cardeais você já saberá!). 

Mas isso é muito curioso, e levanta uma série de questões: como que esses cupins sabem pra qual direção construir? Por que os ninhos possuem esse formato de placa? Quais as vantagens adaptativas que a arquitetura do ninho pode trazer? Será que eles possuem uma bússola?

Existem evidências que o campo magnético da terra de fato guia os cupins na construção do ninho, mas como eles percebem o campo magnético ainda é um mistério. Mas também existem outros fatores que influenciam, como a radiação solar, sombra e velocidade do vento. Isso nos leva para hipótese mais aceita atualmente, a hipótese do “platô da face leste”. De acordo com essa hipótese, a parte leste do ninho é aquecida com o nascer do sol e alcança um platô de temperatura (aproximante 30°), permitindo que os cupins se aqueçam após uma noite fria, enquanto isso a face oeste do ninho se mantém relativamente mais fria, impedindo um superaquecimento do ninho. Com o passar do dia, o cenário é invertido, a face leste começa esfriar e a face oeste começa esquentar, assim o ninho permanece em uma equilíbrio de temperatura adequada para os cupins (Incrível né?).

Mas aí você poderia perguntar: “poxa, pra que tudo isso? Porque eles não simplesmente vão para baixo do solo para fugir do calor?!”

O que acontece, é que os ninhos dos A. meridionalis ocorrem em lugares que inundam durante as estações das chuvas, e eles não conseguem ir para o subsolo. Então essa adaptação não é simplesmente para o calor, mas também para esses locais que inundam. Também deve ser por isso possuem o formato em placa vertical e alongado. A principal evidência para isso é que os outras espécies de cupins magnéticos, mencionados anteriormente, fazem ninhos com outra arquitetura em locais que não alagam. Além disso, aparentemente os ninhos neste formatado também facilitam a ventilação, principalmente em locais que os cupins armazenam alimento, uma vez que não podem forragear em épocas de inundação.     


Texto: Gabriel Olivieri


Referências: 

JACKLYN, P. M. ““Magnetic” termite mound surfaces are oriented to suit wind and shade conditions”, Oecologia, v. 91, n. 3, p. 385–395, 1992.

JACKLYN, P. M., MUNRO, U. “Evidence for the use of magnetic cues in mound construction by the termite Amitermes meridionalis (Isoptera: Termitinae)”, Australian Journal of Zoology, v. 50, n. 4, p. 357–368, 2002.

KORB, J. “The shape of compass termite mounds and its biological significance”, Insectes Sociaux, v. 50, n. 3, p. 218–221, 2003.

SCHMIDT, A. M., JACKLYN, P., KORB, J. ““Magnetic” termite mounds: Is their unique shape an adaptation to facilitate gas exchange and improve food storage?”, Insectes Sociaux, v. 61, n. 1, p. 41–49, 2014.

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