Cupim da semana!
Família: Rhinotermitidae
97% das espécies de cupins não causam sérios problemas para os humanos, muito pelo contrário, são muito importantes para o ecossistema, e realizam importantes funções ecológicas…
Mas aqueles 3%…
Para o bem ou para o mal, os cupins são muito importantes. No mundo todo, o gasto com infestações apenas de cupins subterrâneos (que incluem basicamente os gêneros Coptotermes, Reticulitermes, e Heterotermes) excede 40 bilhões de dólares anualmente. Sem mais delongas, o cupim dessa semana é a espécie Coptotermes gestroi, uma importante praga urbana mundial, que causa prejuízos estimados em mais de dez milhões de dólares por ano somente na cidade de São Paulo. O potencial de causar danos desses cupins vem da sua capacidade de digerir celulose, o que faz com que seu prato principal seja seu armário madeira.
Essa espécie não é natural do Brasil, ela foi introduzida aqui através de ação antropogênica, isto é, nós mesmos, humanos, trouxemos ela pra cá. Acredita-se que ela foi “espalhada” por boa parte do mundo por navegações durante o século XX, em colônias ocultas em barcos. Por isso mesmo essa espécie também é comumente chamada de “cupim asiático”. Não só C. gestroi, mas outras espécies de Coptotermes também foram introduzidas em outros continentes como na África e Oceania.
Coptotermes gestroi possui algumas características que aumentam seu potencial como praga. Uma das principais é que ele constrói ninhos subterrâneos ou aéreos (como em caixas de luz), e esses ninhos podem ser muitas vezes policálicos, isto é, uma colônia com várias “bases” interligadas, inclusive tendo rainhas e reis em cada base/ninho. Além disso, a população de uma colônia madura pode chegar a um milhão de indivíduos (imagine o quanto um milhão de cupins podem comer!!), e eles podem sair para buscar alimento em uma área de um campo de futebol – um raio de pelo menos 100 m.
Esta espécie tem seu período de revoada majoritariamente na primavera ou um pouco antes, nos dois hemisférios. Em São Paulo, nos meses de agosto até novembro, é possível ver aleluias de C. gestroi voando nas luzes dos postes, geralmente entre 18h-19h. Essas aleluias são cupins reprodutores buscando formar seu próprio ninho, fazendo seus voos nupciais. Elas ficam nas luzes pois antes da eletricidade, eles se guiavam pela luz da lua.
Na América do Sul, são encontradas apenas duas espécies de Coptotermes, uma nativa, Coptotermes testaceus, com ampla distribuição, e nosso cupim da semana, C. gestroi, que está apenas em algumas cidades onde foi introduzido, e não é encontrado em ambientes naturais. Os soldados das duas podem ser diferenciadas por uns pelinhos na borda da fontanela – uma estrutura que libera uma substância leitosa e grudenta como defesa. E os alados podem ser diferenciados pela cor da asa. Na espécie nativa, C. testaceus, as asas são escuras, enquanto em C. gestroi, as asas são claras, quase transparentes.
Como você observou, C. gestroi é uma importante praga para nós, seres humanos. Mas podemos/devemos refletir: como ele se tornou uma praga? Ora, foi essencialmente através da ação humana, seja ela transportando a espécie para um lugar em que ela possa se reproduzir sem controle natural, e também pela disponibilização de comida em abundância para esses bichos. Assim, biologicamente, as pragas nada mais são que animais que se adaptaram e tem muito sucesso em seu (novo) habitat, vivendo de certa forma em conjunto com os humanos. Obviamente, isso por si não é o suficiente para que um animal seja definido como praga (senão cachorros seriam pragas). O problema é que essas espécies-praga, no seu contato com o ambiente onde foram introduzidas, acabam nos prejudicando economicamente – no caso do C. gestroi.
Texto: Gustavo Pires Matheus
Referências:
Milano, S. & Fontes, L.R. (2002) Cupim e cidade. Implicações ecológicas e controle.
Conquista Artes Gráficas, São Paulo, 141p.
Janei, V. (2013) Coptotermes gestroi (Isoptera, Rhinotermitidae): dinâmica de colônias inteiras, necessidades hídricas e alocação de castas entre diferentes fontes alimentares. Instituto de Biociências do Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista.
Chouvenc, T., Scheffrahn, R. H., Mullins, A. J., & Su, N. Y. (2017). Flight phenology of two Coptotermes species (Isoptera: Rhinotermitidae) in southeastern Florida. Journal of economic entomology, 110(4), 1693-1704.
Rust, M. K., & Su, N. Y. (2012). Managing social insects of urban importance. Annual review of entomology, 57, 355-375.
Parabéns pelo conteúdo! Os textos são excelentes, eu como dono de uma empresa de controle de pragas estou aprendendo bastante com seus artigos! Continue assim, parabéns.
Muito obrigado Gabriel! Ficamos felizes de saber que o conteúdo está sendo útil para você e sua empresa! Esse feedback é muito importante pra gente.
Boa tarde.
Recebi um artigo que fala sobre a utilização de óleos essenciais de Eucalyptus spp. para o controle do cupim subterrâneo Coptotermes gestroi (WASMAN). Dos óleos analisados, o que teve maior sucesso foi o E. citriodora. Por acaso sabem me dizer se existe algum produto na praça que tenha esse tipo de óleo?
Agradeço desde já.
Att, Marco Patriota.
Oi Marco,
Obrigado pelo comentário! Infelizmente não sei te dizer.
O que eu geralmente escuto é que o que funciona para Coptotermes são as iscas, ou então barreiras como forma de prevenção.
Aí talvez tenha alguma barreira química que utilize esse tipo de óleo, mas não não sei te dizer.
Abs
Olá, adorei o conteúdo. Gostaria de saber se você conhece alguma referência da literatura que ajuda na identificação e diferenciação das espécies com imagens ilustrativas, iguais essas do seu texto. É para um trabalho academico. Obrigada!
Oi Gilmara. Você quer diferenciar as espécies de cupins de uma forma geral, ou de Coptotermes?
Para Coptotermes, você pode ver esse trabalho: https://www.zobodat.at/pdf/Arthropod-Systematics-Phylogeny_73_0333-0348.pdf
Para cupins de uma forma geral, tem a chave de gênero do Reginaldo Constanino, da UnB. Apesar de um pouco desatualizada, ainda é muito útil.
Muito obrigada! Eu consegui diferenciar somente até gênero. Realmente para identificar as espécies preciso de equipamentos mais sofisticados do que tenho disponível. Assim, só consegui chegar a suspeita de uma espécie, sem de fato conseguir confirmá-la. Mas, para o meu propósito, foi suficiente!
Oi Gilmara, que ótimo de deu certo! =)