O que pandas e cupins têm em comum?

Panda cupim bambu

Pandas e cupins são animais bem distintos, certo? Pois saiba que, como a pergunta do título desse texto sugere, cupins e pandas possuem algo em comum, e isso está relacionado à refeição predileta deles! Isso mesmo, assim como os pandas, algumas espécies de cupins adoram uma saladinha de bambu e, sabendo disso, um estudo realizado no Havaí mostrou que diferentes espécies de bambus podem ser mais ou menos apreciadas por esses pequenos “degustadores”.

Quando olhamos para todas as espécies de cupins, não existe um consenso, eles podem comer uma diversidade de alimentos, desde matéria orgânica já bem decomposta no solo, passando por gramíneas, serapilheira, fungos e micro epífitas e, claro, madeira. Tem cupim que come até carcaças de animais (não exclusivamente, mas como “suplemento”).  Mas, até uma mesma espécie de cupim pode ter suas preferências. Pois é, eles são como nós – com certeza até mesmo na sua família tem aquela discussão na hora de escolher um sabor de uma pizza, né? Os cupins que comem madeira, gramínea ou serapilheira também são assim, e podem ter preferência por diferentes espécies de plantas, de acordo com a qualidade e quantidade de compostos que elas possuem. Em relação aos bambus, é interessante lembrar que eles são um grupo de espécies de gramíneas, mas geralmente são os cupins xilófagos, consumidores de madeira, que gostam de “degustar” essa iguaria também muito apreciada pelos pandas.

Entre as gramíneas, o bambu compreende um conjunto de espécies com diversas aplicações para nós, seres humanos (como construção, artesanato e alimentação). Existem diversos benefícios relacionados ao seu uso em construções, por exemplo, pois ele é um produto renovável, possui alta taxa de crescimento e tem um menor consumo de recursos na produção (quando comparada à maioria dos tipos de madeira). Mas, como já comentamos, algumas espécies de cupins são conhecidas por atacar bambu. Assim, como existe um interesse pela produção dessa planta, é claro que cupins se alimentando deles não seria algo de interesse para quem os produz, né? Foi aí que pesquisadores do Havaí analisaram a preferência alimentar dos cupins Coptotermes formosanus e C. gestroi entre seis diferentes espécies de bambus (Bambusa hirose, B. oldhami, Dendrocalamus brandisii, D. latiflorus, Gigantocholoa pseudoarundinaceae e Guadua angustifolia).

Mas como os pesquisadores do Havaí analisaram a preferência alimentar de organismos tão pequenos? Eles fizeram bioensaios em laboratório, onde colocaram 200 cupins (mais ou menos 180 operários e 20 soldados) em vários recipientes sob condições controladas. Para cada grupo de 200 cupins eles ofereceram diferentes espécies de bambus. Após quatro semanas, foi calculado o consumo de bambu pelos cupins. Os resultados encontrados pelos cientistas mostraram que as duas espécies de cupins analisadas (C. formosanus e C. gestroi) mostraram ter um gosto parecido em relação aos bambus, sendo a espécie G. angustifolia o bambu mais consumido e G. pseudoarundinaceae e B. oldhamii, os mais resistentes aos ataques. 

Apesar dos pesquisadores nesse trabalho não terem testado isso, outros trabalhos mostram que bambus com maiores concentrações de minerais e carboidratos (especialmente amido) podem sofrer maiores ataques dos cupins, podendo explicar a diferença na preferência entre as espécies. E sabe quem também escolhe diferentes espécies de bambus de acordo com o valor nutricional? Isso mesmo, os pandas! Estudos com preferências alimentares de pandas mostraram que eles também escolhem não só diferentes espécies, mas também partes das plantas (folhas ou caule). Em um estudo na Malásia, pandas em cativeiro preferiram caules de Dendrocalamus asper comparado com outras duas espécies. Pena que não compararam com as mesmas espécies do trabalho com cupins.

Mas então, esse gosto peculiar dos cupins faz com que eles possam ser considerados pragas de bambus? Bom, teoricamente  sim, porém, na literatura existem registros de danos causados por apenas quatro espécies de cupins em bambus: C. formosanus, C. gestroi (Rhinotermitidae), Microcerotermes losbañosensis e Nasutitermes corniger (Termitidae). Com relação aos bambus, foram relatados ataques a espécies dos gêneros Bambusa, Dendrocalamus, Gigantochloa e Guadua, sendo todas de importância comercial. No Brasil, são cultivadas extensivamente várias espécies de bambu, e há uma grande diversidade de espécies nativas. Entretanto, ainda há pouca informação sobre a interação dessas plantas com os cupins, e  muitas vezes é atribuído aos cupins o dano causado por outros organismos xilófagos, como por exemplo besouros, reforçando a necessidade de mais pesquisas sobre a interação entre os cupins e o bambu.

———-

Texto por:  Bianca S. F. dos Santos e Alberto Arab

———-

Referências

HAPUKOTUWA, N. K.; KENNETH GRACE, J. Comparative study of the resistance of six Hawaii-grown bamboo species to attack by the subterranean termites Coptotermes formosanus Shiraki and Coptotermes gestroi (Wasmann) (Blattodea: Rhinotermitidae). Insects, v. 2, n. 4, p.475–485, 2011.

ISHAK, I. C. et al. Effects of preference and nutritional values of local bamboo towards growth performance of captive giant pandas (Ailuropoda melanoleuca) in Zoo Negara, Malaysia. Journal of Sustainability Science and Management,  v.11, n.1, p.92-98, 2016.

SUBEKTI, N. et al. Potential for Subterranean Termite Attack against Five Bamboo Species inCorrelation with Chemical Components. Procedia Environmental Sciences, v. 28, p. 783–788,2015.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *