Cupins, de sobreviventes do Titanic, a verdadeiros Piratas do Caribe

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Representantes de uma família de cupins chamada Termitidae estão hoje distribuídos por todas as regiões tropicais do mundo. Essa família é quase equivalente às famílias Silva, Pereira e Santos, juntas aqui no Brasil! São super comuns. Mas, acontece que essa família provavelmente surgiu na África, por volta de 54 milhões de anos atrás, e nesse tempo os continentes já estavam separados, mais ou menos, como conhecemos hoje. Então, como é que esses cupins conseguiram se espalhar em vários locais do planeta?

Há 30 milhões de anos, alguns cupins “viajaram” por todo o oceano Atlântico, saindo da África até chegar na costa do Brasil. Mais recentemente, há 15 milhões de anos, outros pequenos grupos de cupins fizeram uma viagem ainda mais impressionante, eles saíram da América do Sul até a Ásia e Austrália, atravessando todo oceano Pacífico! Além disso, várias outras “travessias” oceânicas e marítimas foram feitas por esses insetos ao longo de sua história evolutiva, como da costa leste da África e península arábica para Índia, por exemplo.

Mas, peraí, como é que o pessoal consegue stalkear levantar dados tão antigos desses seres tão pequeninos há tanto tempo atrás? Quando ainda nem havia ticket de avião ou cruzeiros marítimos? Os cientistas levantam essas ideias (hipóteses) após estudar diversas fontes de evidências.

Uma das formas é através do estudo de parentesco ou história evolutiva dos grupos (a história dos tatatatatatatatatatatatataravós ancestrais dos cupins existentes e ainda vivos ao longo de vários milhões de anos – similar à uma árvore genealógica), e a outra é através do respectivo “calendário” dessa história evolutiva (basicamente, quando um grupo divergiu de outro. Se você não entendeu essa parte, você está convidado a clicar aqui, para entender um pouquinho mais sobre evolução!). Para estudar a história evolutiva e colocar datas nos eventos, os cientistas utilizaram duas ferramentas: fósseis e DNA.

Eles utilizaram o DNA para ver a relação de parentesco entre os grupos dentro da família Termitidae que estão vivos hoje. Assim, viram que os grupos que surgiram há mais tempo (a linhagem mais antiga), estão apenas na África. Isso é uma grande evidência que o ancestral de todos os cupins daquele grupo também estavam na África. É mais ou menos parecido quando você quer descobrir da onde sua família vem. Se seus tataravós são de Portugal, é muito provável que os seus avós também sejam de Portugal, e assim, os seus ancestrais vieram de Portugal também, ou pelo menos de outros lugares próximos da Europa.

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Através do registro fóssil, é possível tentar levantar alguns dados e registrar datas para o surgimento de alguns grupos, ou saber se um grupo estava ou não em algum lugar. Por exemplo, vamos supor que você viajou para a África, e achou um fóssil, que pelas características, pode ser um fóssil de Homo sapiens – nossa espécie, de aproximadamente 180 mil de anos, certo? Logo, podemos afirmar que a nossa espécie teria surgido, pelo menos, há mais ou menos 180 mil de anos. Agora, você voltou para o Brasil, e encontrou alguns fósseis de Homo sapiens, mas apenas de 15 mil anos. O que isso sugere? Isso mesmo! Nós chegamos aqui, nas Américas, há bem menos tempo, e é muito provável que nossa origem seja africana.

A ideia é a mesma para os cupins. A diferença é que os cupins dificilmente teriam atravessado por uma ponte de terra que teria ligado a Ásia e América do Norte (o estreito de Bering – que é a ideia mais aceita para a dispersão dos humanos da Ásia para as Américas, por uma ponte de terra, quando o nível do mar estava muito baixo). Isto porque, a família Termitidae está restrita apenas a áreas tropicais, ou seja, regiões mais quentes (e, você sabe muito bem que lá na América do Norte, no oeste, corresponde a uma área de clima temperado, ou seja, é frio demais!). Dessa forma, só nos resta apenas a opção provável hipótese dos cupins terem chegado onde estão, através de “cruzeiros marítimos”, também conhecidos como pedaços de madeira com cupim.

Essa ideia pode parecer bem pouco provável, né? Mas veja só essa reportagem sobre mais de 300 espécies marinhas que foram do Japão aos EUA depois da Tsunami de 2011. Um cupim dentro da sua porta de madeira flutuando pelos mares talvez não seja tão improvável assim. Esperamos que da próxima vez que você veja uma colônia de cupim, pense neles como verdadeiros Jack Sparrow!

Texto por Natalia Uehara
Publicado originalmente em 24/01/2018

Veja o artigo original:
Bourguignon et al. (2016) Mitochondrial Phylogenomics Resolves the Global Spread of Higher Termites, Ecosystem Engineers of the Tropics, Molecular Biology and Evolution, 34(3): 589–597, https://doi.org/10.1093/molbev/msw253

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